Revolução tecnológica

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Por Agência Brasil  

Por César Graça

O Brasil tem duas variáveis que podem mudar a produção de alimentos no mundo. A primeira é a extensão da área agricultável. Hoje só usa 7%. A segunda é uma precipitação de chuvas que permite duas safras por ano no mesmo terreno sem irrigação.

O Brasil sempre teve esse potencial de produção agrícola. Então, por qual motivo só nos últimos anos a produção agrícola brasileira cresceu tanto?

A resposta é simples: o desenvolvimento de novas tecnologias. Sem o desenvolvimento desse conjunto de ferramentas, o Brasil não teria conseguido o sucesso atual.

Essas tecnologias não existiam em outro lugar do planeta. Precisaram ser desenvolvidas aqui. O Brasil é essencialmente um país tropical. As tecnologias agrícolas conhecidas foram desenvolvidas para os climas temperados, que não se adaptaram bem no Brasil. A tecnologia agrícola brasileira disponível tinha sido desenvolvida pela cultura indígena que era bem adequada para pequenas escalas de produção.

Essa passagem de escala foi um movimento difícil. Vários erros foram cometidos. Com o tempo, algumas alternativas se mostraram muito produtivas. Talvez a mais revolucionária seja a do plantio direto. Que consiste no plantio sem remover a terra entre um plantio e outro. As ervas daninhas são contidas com produtos químicos e com a palhada, que fica em cima da terra. O resultado é uma acumulação de material orgânico. Que vai gradualmente aumentando a fertilidade do solo e a sua produtividade.

Hoje a maioria dos agricultores se preocupam em aumentar a camada de vegetação morta que cobre a terra. Com essa estratégia muitos agricultores acrescentam uma terceira safra por ano, só para produzir matéria de cobertura. A estrutura mais comum é a primeira safra de verão de soja, plantada geralmente em setembro, a segunda de milho em consórcio com uma gramínea, em janeiro e fevereiro. O milho é colhido em junho ou julho. A gramínea, então, toma conta do terreno e continua crescendo até a preparação do plantio da soja. Dessa forma, o solo nunca fica descoberto.

Várias máquinas foram desenvolvidas para facilitar o consórcio entre os plantios. Uma delas é a semeadura das gramíneas 30 dias após o plantio do milho. É uma forma de controlar o crescimento das gramíneas até a colheita do milho. Outra, um equipamento que pica a massa verde produzida pelas gramíneas e o resto da palhada do milho um pouco antes do plantio da soja. Essa uniformização da palhada facilita o plantio da soja e protege melhor o terreno da chuva e do sol.

Existem técnicas que facilitam a sobreposição entre o plantio do milho e colheita da soja. O conceito é plantar milho de 15 a 30 dias antes da colheita da soja. Não pode ser feito quando a soja já estiver no ponto de colheita, pois os grãos da soja poderão cair das vagens já secas. Se as vagens ainda estiverem verdes, o plantio pode ser feito sem problemas. Na colheita da soja, a parte aérea do milho, com duas ou quatro folhas, é cortada. Em poucos dias a planta se recupera, em menos de 10 dias ela volta a um estágio equivalente ao de uma planta que não foi cortada. Em alguns momentos é possível ganhar de 15 a 30 dias no calendário agrícola, com a sobreposição das safras, o que pode ser muito vantajoso.

Esses só são pequenos exemplos. Existem muitos outros que melhoram muito a produtividade do plantio em climas tropicais. O Brasil não só planta soja e milho. Cana-de-açúcar também. Só que o seu plantio exige técnicas muito diferentes. A cana é plantada uma vez e colhida pelo menos cinco vezes, uma a cada ano. Algumas vezes chega a oito colheitas. Depois a cana precisa ser replantada. Nesse replantio está ocorrendo uma integração com o plantio da soja e algumas vezes também do milho. Em algumas regiões de São Paulo é muito comum o plantio do amendoim. Essa rotação de culturas é muito útil para melhorar a produtividade da cana.

Com a guerra de Trump com os chineses, a agricultura brasileira deu um salto na disseminação de tecnologias. Agora com o aumento dos preços das commodities agrícolas esse processo está se acelerando ainda mais. O que deve melhorar a lucratividade do agronegócio brasileiro.

Esse é o ponto chave. O agronegócio brasileiro vai se expandir em volume porque é extremamente lucrativo. E a lucratividade vem do aumento da produtividade.

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