O mundo pós-pandemia

Foto: Freepik

Por César Graça

Quando a epidemia do Coronavírus começou a impressão que dava é que ela seria mais uma gripe. Talvez um pouco mais preocupante, com uma taxa de letalidade um pouco maior. Após um ano, a realidade é totalmente diferente. As coisas mudaram bastante. As transformações na sociedade se aceleraram. O trabalho em casa – home office – aumentou bastante. As pessoas passaram a se deslocar bem menos. A importância das redes sociais aumentou muito. Tudo aconteceu de repente.

O contato entre os países diminuiu. As viagens internacionais caíram. As relações entre os países passaram a ser mais comerciais. As trocas culturais diminuíram. Os países que se encontravam na produção de serviços sofreram muito mais. O turismo internacional caiu. Tudo que poderia ser feito através das redes sociais aumentou. O mundo caminhou na direção do virtual. Das relações virtuais. Do aprendizado virtual. A massificação do digital.

Nesse novo mundo, o Brasil cresceu de importância. Primeiro pelo seu tamanho. O Brasil tem uma dimensão continental. A complementaridade entre as regiões é muito grande. As viagens internas aumentaram, pois eram as únicas possíveis. O Brasil se redescobriu.

O Brasil ainda se encontra no estágio tecnológico de produção de commodities. Algo que todos precisam. Não dá para sobreviver sem comida, sem minérios, sem petróleo. Com a epidemia o consumo das commodities não caiu, pelo contrário até aumentou. A economia brasileira se voltou para as exportações. Com isso a sua recuperação econômica foi bem mais rápida.

Só que esse crescimento econômico se somou a dois outros movimentos: a Guerra de Trump com a China e o aumento dos preços das commodities.  O ex-presidente Trump enfrentou o crescimento econômico da China com sérios embates. A China respondeu com uma política de dificultar as vendas norte-americanas para a China. O principal item dessas restrições foi a soja norte-americana. A China deu preferência à soja brasileira. O que aumentou o volume das exportações brasileiras para a China, não só da soja, mas também de outros itens. As commodities agrícolas têm um ciclo de variação de preço de sete anos. Neste momento, estamos numa fase de crescimento dos preços.

Somando esses três fatores – a epidemia, a Guerra de Trump e o aumento dos preços das commodities – a agricultura brasileira está vivendo uma fase de forte expansão das suas exportações. O que vai levar a um aumento dos superávits da balança comercial. Isso já ocorreu nos últimos dois anos, mas com uma intensidade fraca. Agora esse processo deve se acentuar. O que vai pegar os economistas de surpresa. Ninguém estava esperando uma recuperação da economia brasileira tão rápida.

Isso deve mexer com o quadro político do Brasil. O governo Bolsonaro deve se fortalecer. As reformas que ele pretendia fazer, agora elas vão passar no Congresso Nacional com mais facilidade. Os novos líderes do Congresso, eleitos em 2021, já estão um pouco mais alinhados com o presidente Bolsonaro. Só que essas transformações vão ocorrer com uma velocidade jamais imaginada. A melhoria da eficiência da economia brasileira vai ser muito rápida. Várias estatais vão ser privatizadas, dando um novo dinamismo à economia. O governo vai reduzir a quantidade de funcionários públicos. Os seus privilégios vão ser reduzidos. Os abusos vão ser conhecidos por todos. O descrédito dos funcionários públicos vai aumentar bastante.

Até os investidores estrangeiros vão ser pegos de surpresa. Estavam acostumados com a imobilidade brasileira. De repente o Brasil acordou e se pôs em movimento. Só que a velocidade das transformações é muito alta. Em poucos anos a economia brasileira se transformará inteiramente.

O que a maioria não percebeu é que as transformações já estavam ocorrendo. A subida ao poder do presidente Bolsonaro já fazia parte de um projeto de renovação do Brasil, não só da política e da economia, mas de toda a mentalidade brasileira.

O que está acontecendo é uma inserção do Brasil entre as nações líderes do mundo. O Brasil sempre jogou um papel secundário, apesar do seu tamanho e das diversas nações integradas na cultura brasileira, que é sua marca singular. Não existe uma cultura dominante. O que existe é uma língua comum, o português. O português brasileiro. Que vai ter uma forte influência mundial, por ser a língua comum a diversas culturas.

Países que têm dificuldade de se compreenderem, no português brasileiro encontram uma língua comum, um comportamento de entendimento, uma plataforma de convivência pacífica.

Os jovens do mundo inteiro começam a descobrir o Brasil e a sua cultura singular de convivência pacífica. Se sentem atraídos. Querem levar essa cultura para os seus países de origem. Sentem muita dificuldade de comunicar a sua descoberta.

O Brasil vai chamar a atenção do mundo de diversas maneiras. Cada grupo, cada cultura, cada nação vai dar destaque da sua forma, da sua maneira de ver o Brasil. Como o Brasil tem nas suas raízes representantes de diversas culturas, eles serão pontos de contato com a cultura original. O que facilita muito a integração do Brasil com os outros países. Todos se sentem representados na cultura brasileira. Só que numa base de convívio harmonioso. Por não ter uma cultura dominante, as diversas culturas se sentem bem representadas. Essa nivelação de culturas faz toda a diferença. Não existe opressor e oprimido. Todos são iguais. Se sentem bem representados.

Nessa base de compreensão, as trocas de cultura e até mesmo de negócios se fazem de forma bem mais fácil. É o que vai ocorrer com o Brasil. A sua facilidade de produzir alimentos vai se expandir. A China é o primeiro cliente. Os volumes que a China demanda de alimentos são enormes. Logo outros países também vão demandar os produtos agrícolas brasileiros. A facilidade do Brasil em fazer o comércio vai expandir muito o tamanho das nossas exportações.

A soja vai ser a ponta de lança. Vários outros produtos vão se seguir. Cada país terá a sua preferência. Nesta diversidade de produtos e clientes é que o Brasil vai construir a sua riqueza. Essa construção vai acontecer rapidamente. Pois a base já está lançada. Agora é o momento das transformações se tornarem aparentes. O mundo inteiro vai se surpreender. Os volumes dos produtos exportados são muito grandes. A taxa de crescimento vai ser enorme. De repente o Brasil se transformou numa enorme fonte de alimentos para o mundo todo.

O que o mundo vai descobrir é que o Brasil está há muito tempo se preparando para essa missão, de ser o celeiro do mundo. A produção de alimentos não está concentrada em uma região, ela se espalha por todo o território nacional. Na Amazônia, apesar das denúncias internacionais, ela é muito pequena. Plantar na Amazônia é muito difícil. A terra é pobre, apesar da floresta. O caminho de exploração é outro. Conviver com a floresta e explorá-la de forma sustentável. Já existem bons modelos. Agora é a fase da multiplicação desses modelos.

A multiplicação da produção agrícola vai ocorrer nas áreas que hoje são usadas para pasto. A integração lavoura-pecuária-floresta vai dar um novo dinamismo para a produção agrícola brasileira. Os esforços para integração da área hoje usada para pastagens para a produção agrícola serão muito rápidos. A tecnologia está totalmente dominada. A rentabilidade da soja e, principalmente, do milho vai ampliar muito a área plantada. A renovação das áreas de pasto vai dar um novo dinamismo à pecuária. A produção de soja e milho vai possibilitar um custo de ração muito mais atraente nas regiões pecuárias. Se na região tiver uma usina de álcool de milho a atratividade da pecuária aumenta ainda mais, por causa do DDG, um farelo de alto teor de proteína, subproduto do processo de produção do álcool. Com ele, o custo da ração cai mais ainda.

Com a possibilidade de fazer até três safras por ano – uma de soja, uma de milho e uma de gramínea – a produção é otimizada. A rentabilidade de cada uma das safras em particular é um atrativo a mais para manter a terra sempre ocupada. Com essa geração de riqueza intensa, a transformação do interior do Brasil vai ser muito rápida. A geração de emprego, no interior, vai ser muito alta. A crise econômica vai continuar nos grandes centros. A realidade no interior vai ser diferente. Vários projetos de aumento da capacidade produtiva vão ser disparados, na linha da melhoria da infraestrutura de armazenamento, de transporte, e de ampliação da capacidade produtiva.

Essa fase de preços altos, das commodities agrícolas, deve durar pelo menos dois anos, talvez chegue até quatro. Todo esse esforço de ampliação da capacidade produtiva deve provocar uma onda de transformação do interior do Brasil.

Quando o mundo acordar, após a epidemia, o Brasil será outro. Muitos não vão acreditar. Vão ter dificuldade em aceitar que o Brasil consegue fazer três safras por ano na mesma área. Essa realidade é fruto de uma tecnologia desenvolvida localmente. Algo que só é possível em climas tropicais. Por causa da alta densidade das chuvas.

A alta rentabilidade provocou um movimento de transformação. As redes sociais fizeram o papel de difundir as tecnologias dominadas. O Brasil inteiro fala a mesma língua. A televisão brasileira criou um padrão de comunicação. Nas redes sociais cada fazendeiro se transformou num gerador de conteúdo sobre tecnologias agrícolas.

As escolas tradicionais continuaram a fazer o papel de geradoras primárias de conteúdo. Mas vai ser a massa de agricultores, nas redes sociais, que vai transmitir a tecnologia gerada. As atualizações serão muito rápidas. Os equipamentos agrícolas vão ser rapidamente atualizados. As novas máquinas terão maior capacidade de produção. O que vai facilitar ainda mais os trabalhos dos agricultores. Com a alta rentabilidade o crédito será farto. Os bancos não terão medo de emprestar. Toda a economia brasileira deve se acelerar com o aumento da produção do agronegócio.

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