Veículos Elétricos (II)

Foto: Reprodução

Por César Graça

Depois de um longo desenvolvimento, os veículos elétricos entraram numa fase de expansão. Hoje, são muito melhores, que os veículos convencionais a motores de explosão e os preços já está muito próximo. Logo os veículos elétricos ficarão mais baratos que os veículos tradicionais. O seu custo operacional também será bem mais baixo e as grandes cidades se livrarão da poluição da queima de combustíveis fósseis. Será uma nova realidade. As grandes cidades serão bem mais limpas. A qualidade de vida vai melhorar bastante. Isso já está acontecendo em algumas cidades europeias.

Com a crise econômica de 2015, o consumo de automóveis, no Brasil, caiu bastante. A produção anual, que já chegou a mais de 4 milhões de automóveis por ano, agora está por volta de 2,5. Essa queda foi suficiente para derrubar bastante a colocação do Brasil entre os maiores produtores e consumidores de automóveis. Com isso o Brasil sofreu a falta de investimentos na nossa indústria automobilística, que está bem defasada. O contrário ocorreu com a nossa indústria de caminhões, ônibus e equipamentos agrícolas, que continuam crescendo bastante e estão com a tecnologia de ponta. Temos uma indústria automobilística de bens de produção muito forte e a de bens de consumo bem atrasada.

Já existem automóveis elétricos à venda. São modelos importados de luxo. As fábricas chinesas, instaladas no Brasil, estão anunciando que vão montar veículos elétricos dos modelos mais baratos e que estão muito defasados com relação aos modelos mais avançados, como os da Tesla.

A Tesla tem duas fábricas montando carros: uma nos Estados Unidos, na California, e outra na China, em Shangai. Está construindo mais duas: uma na Alemanha, em Berlim, e outra nos Estados Unidos, no Texas. Anunciou uma quinta fábrica na Índia, mas não começou a sua implantação. Em 2020, a Tesla fabricou meio milhão de veículos. Agora, em 2021, a expectativa é que chegue perto de um milhão. Para 2022, algumas previsões falam de 1,7 a 2,0 milhões de veículos. A taxa de crescimento da produção de veículos da Tesla está assustando o mercado. Ninguém estava esperando uma taxa tão alta.

Todos os maiores fabricantes de automóveis convencionais estão anunciando lançamentos de veículos elétricos. A liderança tecnológica da Tesla é inquestionável. Os investimentos necessários são imensos. A maioria dos fabricantes não têm recursos para isso. É muito provável que muitos fabricantes de automóveis convencionais desapareçam. Vai ser uma luta pela sobrevivência.

O funcionamento das grandes cidades no mundo vai se modificar. A carga de poluição atmosférica deverá diminuir. O custo de deslocamento deverá diminuir. Em consequência, o consumo de petróleo deve diminuir. O que deverá reduzir o seu preço. O que deverá diminuir a atratividade da indústria do petróleo.

O impacto dessa transformação será menos intenso no Brasil, por causa do álcool, que é bem menos poluente que o petróleo. É um combustível renovável. Uma forma de reduzir a poluição da gasolina é adicionar álcool. Uma taxa de 10% já tem um impacto muito bom, pois reduz a quantidade de aditivos cancerígenos a base de chumbo adicionados à gasolina. Um procedimento ainda pouco adotado mundo a fora. O Brasil tem metade da sua frota de automóveis usando álcool hidratado. E a outra metade que usa gasolina, que tem 26% de álcool anidro na sua composição. Esse é um motivo que as cidades brasileiras são bem menos poluídas. Com o uso de veículos elétricos, nas grandes cidades, a poluição vai diminuir mais ainda. É provável que o governo brasileiro incentive a compra de veículos elétricos. O tamanho desse incentivo, uma incógnita. Alguns fabricantes de veículos híbridos já estão anunciando o lançamento dos seus produtos no Brasil. É uma tecnologia bem dominada, mas ainda cara. Provavelmente vão reduzir o seu preço para ser vendida em grandes quantidades no Brasil. É uma estratégia defensiva.

O que vai provocar mais impacto é a troca dos motores diesel por motores elétricos, principalmente, nos ônibus e nos caminhões de entregas, que operam nas grandes cidades. Pois são poucos veículos e que fazem altas quilometragem. São veículos muito sensíveis ao custo operacional. Podem usar baterias com autonomia menor. E podem ser recarregados fora dos horários de pico do consumo de eletricidade. O que pode baratear o seu reabastecimento. Para o ônibus urbanos significa uma redução do preço das passagens. Se esses ônibus tiverem uma automação embarcada do nível da Tesla é fácil simular o funcionamento de um metrô de superfície, com um custo de implantação muito baixo. Só criando faixas exclusivas nas ruas. O que deve revolucionar o trânsito nas grandes cidades. Curitiba não tem metrô, só ônibus expressos em canaletas exclusivas. Implantar uma rede de metrô, com mais de 100 quilômetros, usando ônibus elétricos, é relativamente fácil. 0 mais trabalhoso vai ser desenvolver o software de gestão de todo o sistema. Uma vez desenvolvido, reproduzir para outras cidades é um evento muito rápido e barato.

Muitas cidades vão proibir veículos movidos a combustíveis fósseis no seu centro. Essa já é uma tendência em alguns países desenvolvidos. A Noruega, apesar de ser um grande produtor de petróleo, dá grandes incentivos para quem compra veículos elétricos. Pois ela quer diminuir a poluição no seu território, apesar da sua baixa densidade de automóveis. Os outros países da Escandinávia estão pensando em fazer o mesmo. Muitos países também dão estímulos para a compra de veículos elétricos, mas eles são bem menores.

O alto preço do petróleo, como está agora, é um grande incentivo à troca de veículos à combustão por veículos elétricos. Principalmente para quem tem uma fonte de eletricidade em casa. O Brasil tem muito sol. O mais comum são as placas solares que transformam a energia solar em eletricidade. Com a facilidade de repassar para a rede pública o excedente e ser pago, por isso o brasileiro tem um grande incentivo para instalar as placas solares. Neste modelo não é preciso ter baterias para armazenar eletricidade em casa. O que reduz muito o custo de instalação. Quando a produção é menor que o consumo, o usuário usa a rede da concessionária e compra a energia necessária. No final do mês só paga a diferença: entre o vendeu e o que comprou. O preço na energia é o mesmo quando vendido e quando comprado. Esse é um grande incentivo para a produção de energia elétrica em casa. É evidente que a energia produzida desta forma é muito barata. Usá-la para abastecer os automóveis vai reduzir muito o custo operacional dos automóveis. O que vai ser um grande incentivo para a compra de automóveis elétricos.

O Brasil está passando um momento de redução cíclico das chuvas. Os reservatórios das hidroelétricas estão num nível muito baixo. Para compensar, o governo está ativando outras formas de gerar eletricidade, que são bem mais caras e repassando esse preço para os usuários. O que torna a produção própria de eletricidade bem atrativa e viabiliza a compra dos automóveis elétricos, principalmente os mais baratos. Esse é um nicho que os chineses estão explorando. Em poucos anos teremos uma grande conversão de carros de combustão interna para os motores elétricos. Esse movimento vai ocorrer de uma forma muito intensa, no início. Depois a participação de mercado de cada tipo de combustível mudará mais suavemente. O mesmo vai acontecer com os ônibus urbanos, pois os custos de operar ônibus elétricos é muito mais barato. Com os ônibus rodoviários essa mudança será muito menos intensa. Pois as baterias precisarão ser bem maiores. Tudo vai depender do custo e da autonomia das baterias.

Por causa do sistema de impostos, os combustíveis custam muito caro no Brasil. Como as pessoas, ainda, não pagam imposto pela energia elétrica que produzem, o seu custo é muito mais atraente que o preço dos combustíveis. Isso vai incentivar, logo no início, uma conversão muito intensa. Se o governo acrescentar outros incentivos, como, por exemplo, a redução dos impostos para os veículos elétricos, a atratividade será bem maior.

Pelo que vimos, existe a possibilidade de uma conversão para os veículos elétricos ser bem mais rápida do que as pessoas imaginam. Isso deve se iniciar em 2022, pois a economia deve retomar com força o ano que vem. Isso em função do aumento dos preços das commodities exportadas pelo Brasil. Elas estão no seu pico de preço dos últimos 10 anos. É muito provável que continuem nesse patamar, pelo menos, nos próximos dois ou três anos.

Como é comum no Brasil, as coisas ocorrem de repente. Aparentemente as coisas começam atrasadas. E num impulso a transformação ocorre. O resulto, muitas vezes, é um grande avanço. É só reparar o exemplo de combustíveis alternativos para os automóveis. O Brasil está na liderança mundial com o álcool. Uma tecnologia que nasceu no Brasil. Foi uma experiência da Aeronáutica para viabilizar o uso de álcool ao invés de gasolina de aviação nos aviões. Hoje o Brasil é o único país do mundo que produz aviões a álcool. O avião agrícola Ipanema, produzido pela Embraer. Esse fato é muito citado no exterior, mas pouco conhecido pelos brasileiros.

Veículos elétricos vão revolucionar o trânsito nas grandes cidades. O custo operacional deve cair. As cidades passarão a ser mais limpas. O ruído também diminuirá. Mas nem tudo é perfeito. Os congestionamentos continuarão existindo.

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