Os excessos climáticos

Safra soja 2020. Fotos:Jaelson Lucas / AEN

Por César Graça

De novo, o Brasil está vivendo grandes excessos climáticos. No ano passado, as chuvas de primavera demoraram a chegar. O que atrasou o plantio da safra de verão. Depois, ocorreram falta de chuvas, mesmo assim a primeira safra de verão foi boa. A safrinha foi plantada com atraso. E uma forte geada, no início do inverno, comprometeu a safra de vários produtos. A quebra na safra de milho foi de mais de 30 milhões de toneladas. Algo ao redor de 25% da safra total. Apesar das quebras o resultado foi bom. Pois os preços internacionais estavam bem altos.

As chuvas tinham ocorrido abaixo da média nos últimos cinco anos. As reservas de água estavam baixas nos reservatórios. Em muitas cidades, como Curitiba, já havia racionamento de água há mais de um ano. Em algumas regiões do Brasil, os níveis de chuva atingiram a menor marca nos últimos 90 anos. Em consequência, os níveis dos reservatórios, das hidroelétricas, caíram bastante. As outras fontes de energia elétrica foram ativadas ao máximo. O que elevou bastante o custo de produção. E o governo aumentou o custo das tarifas de energia elétrica. Apesar das dificuldades não houve racionamento. Mas foi por muito pouco, muito pouco mesmo.

O que já é um grande avanço. Em 2000, durante o governo do presidente Henrique Cardoso, o Brasil teve um longo período de graves racionamentos de energia elétrica, principalmente no Sudeste. O impacto na economia foi muito intenso. Vários problemas foram identificados. O mais crítico foi que o Brasil tinha potencial de geração de energia elétrica no Sul e no Nordeste sobrando, mas não tinha capacidade de transmissão da energia para o Sudeste.  Nos últimos 20 anos, a capacidade de transmissão de energia elétrica, de uma região para outra, foi aumentada bastante. A capacidade de produção também. Só que os projetos que criavam grandes reservatórios foram colocados de lado. Foi dado prioridade aos projetos que geraram pequenos reservatórios. O que deixou o sistema hidráulico vulnerável a longos ciclos de seca. O próximo passo é aumentar os projetos que guardem mais água, para que o Brasil possa suportar os ciclos de seca mais longos. De erros e acertos, o sistema de geração de eletricidade vai se desenvolvendo e melhorando.

Este ano, o clima para a agricultura está bem pior. Apesar do começo ter sido muito bom. As chuvas começaram na época certa, no início de setembro. Em outubro e novembro as chuvas foram normais. Mas, em dezembro, elas começaram a estacionar no Centro-oeste e Nordeste. O que provocou grandes inundações, numa região que geralmente chove pouco. O sul da Bahia foi duramente atingido por inundações nunca vistas.

No Sul, as chuvas começaram a rarear. Quando ocorriam, eram esparsas. Em janeiro o clima ficou ainda pior no Sul, as temperaturas aumentaram. As perdas no Sul devem chegar a 50% na soja e no milho. O que deve dar uma quebra de 25 milhões toneladas na soja e 15 no milho no Brasil na primeira safra de verão. Na Argentina a quebra deve ficar ao redor de 15 milhões de toneladas na soja e 20 milhões de milhões de milho. É muito provável que vai demorar alguns meses para se ter uma ideia mais precisa do tamanho das perdas.

Mas já é possível ter uma ideia que as perdas são enormes. O impacto no preço do milho vai ser pequeno, pois a produção do Brasil é só 10% da safra mundial. A primeira safra de verão, no Brasil, só representa 25% da safra total. A safrinha é a principal, 75% da safra total. A quebra de 15 milhões de toneladas é um pouco maior que 1% da safra mundial. No entanto, na soja o impacto vai ser muito maior. A safra projeta do Brasil em 2022 seria de 145 milhões de toneladas, algo em torno de 40 % da safra mundial. Um quebra de um pouco menos 20%, da safra brasileira, terá um grande impacto. Somando as quebras da Argentina e do Paraguai teríamos uma quebra de 45 milhões de toneladas de soja, algo em torno de 12% da safra mundial. Isso num momento que os estoques mundiais estão muito baixos. O que seria suficiente para levar o preço da soja ao redor de 20 dólares o bushel. É algo que ninguém está esperando. Isso vai aumentar o preço das proteínas no mundo inteiro. O impacto na economia brasileira vai ser muito grande, pois o valor das exportações vai aumentar bastante. Pois, todos os grãos vão aumentar de preço e todas as proteínas animais também. Itens que o Brasil se destaca na produção e exportação. As receitas de exportação vão aumentar bastante.

Por outro lado, ao aumento dos preços internacionais vai levar a uma corrida ao aumento da produção de proteínas vegetais no mundo inteiro. No Brasil, isso vai ter um grande impacto. Pois o país tem um grande potencial de crescimento na produção agrícola. O mercado futuro das commodities agrícolas vai sofrer uma grande explosão. O que vai gerar uma mudança da riqueza no mundo. Os países que produzem comida em grandes quantidades vão se enriquecer. O Brasil vai ser o principal beneficiado dessa mudança.

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