Momento delicado

Foto: Reprodução

Por César Graça

Depois da queda da União Soviética, em 1991, os Estados Unidos e a Rússia voltam a se enfrentar. Só que ambos estão bem mais fracos. Tentam reviver momentos da Guerra Fria, que envolveu a Terra depois da 2ª Guerra Mundial, desde 1945 até 1990. O atual confronto é uma farsa. Nenhum dos países tem recursos para uma grande guerra. Ambos sabem que sairão destroçados. Biden e Putin sairão derrotados deste conflito. Queriam mostrar força e só demonstram fraquezas.

Os Estados Unidos gastaram muitos recursos com as duas guerras recentes, no Iraque e no Afeganistão. A sua economia está muito enfraquecida. A sua dívida pública já passou dos 100% do PIB e continua aumentando rapidamente. O FED, o Banco Central deles, vai precisar aumentar a taxa de juros para tentar conter a inflação, que já chegou a 7% ao ano. Quando o fizer a dívida pública vai crescer mais rapidamente ainda. O governo dos Estados Unidos vai precisar fazer cortes duros nos seus gastos. É evidente que isso vai atingir os gastos militares. O que vai enfraquecer o seu poder militar e político.

Por outro lado, a Rússia se recuperou do baque que foi a queda da União Soviética. Agora, a sua economia se baseia nas exportações de petróleo e gás. Metade do gás importado pela Europa vem da Rússia. Depois desse evento, a Europa vai diversificar, mais ainda, as suas fontes de energia. Vai reduzir a sua dependência da Rússia. O que deve dar um baque na economia russa. Os russos já pressentiram essa estratégia e estão tentando aumentar as suas vendas de gás para a China. Ela já foi uma grande parceira dos russos. As lembranças não são boas. Os chineses gostam de fazer as coisas bem devagar. Devem aumentar as suas importações de energia da Rússia, mas não muito. Tudo num faz de conta.

Ou seja, o baque para as duas economias já vai ser grande, mesmo que não haja mais guerra de fato. Só o enfrentamento aumentou muito as suas fragilidades. Nos Estados Unidos, a inflação vai aumentar muito, pois as commodities aumentaram de preço, com a ameaça de conflito. Hoje, a taxa de juro do FED, Banco Central dos Estados Unidos, já está mais de 7% negativa ao ano. O que reduz, de forma acelerada, o montante da dívida pública. De outro lado, quem aplica nos títulos do governo dos Estados Unidos sofrem grandes perdas, principalmente os bancos. Isso perdurando por mais tempo vai provocar uma forte emigração de capital, dos Estados Unidos para outros países. Inclusive para o Brasil. Movimento que já está acontecendo, pois os juros da dívida do governo brasileiro estão com taxas positivas. Esse movimento está provocando uma forte valorização do real.

O confronto entre a Rússia e os Estados Unidos na Ucrânia está acelerando uma grande instabilidade no sistema financeiro internacional. Instabilidade que já vem de longa data. Em 2008, a Crise do Subprimers já tinha abalado o mercado financeiro internacional. Os bancos centrais dos países mais desenvolvidos injetaram uma grande quantidade de dinheiro no sistema financeiro e ele voltou a funcionar, com alguma estabilidade. Agora ele está mais enfraquecido. Os países mais ricos estão com uma dívida interna muito alta. Não podem aumentar o endividamento eternamente. Vão precisar aumentar as taxas de juros e cortar despesas. O que vai provocar uma grande recessão nos Estados Unidos e na Europa. O sistema bélico também sairá enfraquecido.

O que é muito estranho. O mundo inteiro está muito preocupado com o conflito entre os Estados Unidos e a Rússia. E deixou de lado a explosão da inflação na Europa e nos Estados Unidos. Como se essa crise financeira internacional latente não existisse. Na realidade o conflito acelerou a crise financeira, pois ela aumentou os preços das commodities e o déficit dos países mais desenvolvidos. A quebra da safra de milho e, principalmente, da soja, na América Latina, será a gota d’água que vai derramar a água do copo. Vai aumentar ainda mais o preço das commodities agrícolas, acelerar a inflação e provocar os bancos centrais dos países mais desenvolvidos, que precisarão aumentar as taxas de juros. Esse movimento vai provocar um tsunami no mercado financeiro internacional. O que vai levar o atual conflito entre os Estados Unidos e a Rússia na Ucrânia para um papel secundário.

Parece com o início da 1ª Guerra Mundial. Um ataque terrorista nos Balcãs de repente colocou toda a Europa em Guerra. O que levou a Europa inteira a uma grande decadência. Em consequência, a um grande crescimento dos Estados Unidos e da Rússia no final da 2ª Guerra Mundial. Que hoje estão no final de ciclo. A decadência deles é inevitável. Uma nova ordem mundial está nascendo. A crise atual é o início do ato final. E o começo de um novo ciclo.

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