Recessão – O Brasil na Contramão

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Por César Graça

Os países mais desenvolvidos e a China estão entrando em recessão. É um movimento cíclico da economia. O motivo foi a epidemia. Vários procedimentos foram adotados para reduzir a velocidade da propagação. Cada país, cada região adotou procedimentos diferente. Alguns foram muito impactantes para a economia. Para amortecer os efeitos econômicos da epidemia, vários procedimentos financeiros foram adotados. O que aumentou muito os gastos dos governos. O que provocou um aumento da inflação. Para reduzir a inflação os bancos centrais estão aumentando a taxa de juros. O que leva a uma recessão.

Esse é um cenário de fundo dos próximos meses, talvez anos. Talvez os Estados Unidos seja o maior exemplo. Os outros países desenvolvidos têm algumas variações.

A Europa tem um quadro mais complicado. A Guerra Rússia x Ucrânia afetou a economia europeia. A Rússia era um grande fornecedor de energia para a Europa, principalmente gás. O maior comprador era a Alemanha. Essa dependência se mostrou catastrófica para a economia alemã. O fornecimento de gás e petróleo russo à Europa caiu muito, mas ainda não é zero ainda. A Europa está correndo atrás de outros fornecedores de energia. A substituição da Rússia leva um tempo. O que vai afetar muito a economia europeia. A Alemanha é a locomotiva da Europa.

A China está vivendo o estouro de uma bolha imobiliária. Existe um excesso de oferta de novas construções. O governo chinês aumentou a taxa de juros para conter esse excesso de oferta. Várias empresas imobiliárias entraram em crise. Algumas foram à falência, o que atingiu vários bancos. Que também foram liquidados.

Com a crise várias obras foram suspensas. Muitas já tinham compradores que estavam pagando mensalidades durante a construção. Com a crise esses compradores pararam de pagar as mensalidades, pois a construção parou. Outras pessoas, que já estavam ocupando os imóveis já prontos, também pararam de pagar as mensalidades, pois o valor da dívida já se aproxima do valor do imóvel. Em alguns casos, a dívida já é maior que o valor do imóvel. Isso vai ser tornar algo bem comum. O sistema bancário chinês está em risco. Mas não é só. Muitos bancos chineses captaram recursos no estrangeiro. Muitos desses empréstimos não serão pagos. Alguns bancos internacionais estão em sérias dificuldades por causa dos empréstimos ao sistema bancário chinês.

Agora, o Banco Central da China se desesperou e começou a baixar a taxa de juros, para ver se consegue reduzir a queda da economia. É muito provável que não consiga controlar a queda no crescimento da economia e a China entre em recessão. Algo totalmente impensável há alguns anos.

A confiança dos chineses no sistema imobiliário ficou abalada. O modelo econômico chinês era baseado na propriedade privada da residência. Agora esse modelo vai ser substituído por um modelo mais flexível. Isso leva tempo. O que deve impactar na recuperação da economia chinesa.

Os bancos internacionais são interligados. Uma crise econômica simultânea na Europa, na China e nos Estados Unidos tem um poder devastador no sistema bancário mundial.

Hoje o Brasil tem reservas maiores que os empréstimos. O que o isola, de uma certa forma, da crise financeira internacional. Na crise, os bancos tendem a vender os seus ativos com bons descontos. O que abre a oportunidade aos bancos brasileiros e o Banco Central do Brasil anteciparem o pagamento dos empréstimos com bons descontos. O Brasil deve recomprar boa parte da sua dívida externa, com grandes lucros.

O Brasil, por incrível que pareça, está vivendo um bom momento. A economia já recuperou e já está acima do início da epidemia na maioria dos indicadores. Mas o que mais está chamando atenção é a queda da inflação. Causada principalmente para a redução dos impostos sobre os combustíveis, energia elétrica e telefones.

O controle da inflação provocou uma onda de choque positiva. O otimismo na economia brasileira está por todos os lados, no Brasil e no exterior. Ninguém estava esperando um conjunto de notícias tão positivo. O desemprego está caindo no Brasil. Já está abaixo dos patamares de antes da epidemia. Os economistas começaram o ano prevendo um crescimento zero. Agora o consenso já um crescimento da economia de 2% ao ano. As estimativas continuam crescendo. O mais provável é que a economia cresça entre 3 e 5% em 2022. Algo que parece muito estranho para os países mais desenvolvidos que estão caminhando em direção de uma recessão.

Esse quadro, extremamente favorável, facilita muito a reeleição do presidente Bolsonaro. O que, por sua vez, dá mais segurança ao próprio mercado financeiro. E reforça as estratégias econômicas que podem levar o Brasil a um aumento do crescimento econômico, por causa do aumento dos investimentos. Restaram poucos países em situação econômica favorável, no mundo, neste momento.

A Guerra Rússia x Ucrânia tirou do mercado agrícola internacional uma grande quantidade de grãos. Com a redução da oferta, a tendência é que os preços das commodities agrícolas subam. Com o aumento da taxa de juros, nos Estados Unidos, muitos especuladores estão retirando os seus recursos do mercado especulativo de grãos.  O que provoca um movimento de queda de preços. Neste momento, estas duas forças estão atuando fortemente no mercado de grãos. O resultado atual é uma queda suave dos preços das commodities agrícolas. Só que as oscilações estão muito bruscas. O que demonstra uma grande instabilidade nos preços.

Para complicar ainda mais, neste momento, os Estados Unidos estão passando por uma severa seca no Cinturão do Milho. Num momento muito decisivo para a definição da produtividade, principalmente do milho. Dentro uns dois meses o tamanho da safra de grãos dos Estados Unidos já será bem conhecida. O que deve reduzir as oscilações dos preços agrícolas. A tendência é que os preços aumentem. Há falta de alimentos no mundo, por causa da guerra e por climas adversos em diversas regiões do mundo.

Um aumento nos preços das commodities agrícolas, neste momento, vai reforçar ainda mais a economia brasileira no curto prazo. O Brasil tem grandes estoques de soja e milho disponíveis para venda imediata. Os agricultores brasileiros estão segurando as suas safras, esperando preços melhores. Estão muito capitalizados. Eles estão jogando um braço-de-ferro com os especuladores internacionais. Que estão numa posição muito frágil, por causa da subida das taxas de juros nos Estados Unidos.

Todo esse quadro econômico atual favorece muito o Brasil. Acordos econômicos que estavam parados foram retomados. Um exemplo é a integração do Mercosul com a União Europeia. Apesar de já ter sido firmado. Ele precisava ser ratificado pelos Congressos dos países membros da União Europeia. O maior opositor ao tratado era a França. O motivo é simples, a França recebe grandes subsídios para manter a sua agricultura e pecuária funcionando. Com o tratado com o Mercosul a França perderia boa parte desses subsídios e a sua economia agrícola diminuiria de tamanho. Os agricultores franceses são eleitores do presidente Macron. Esse é o motivo que Macron ataca o desmatamento da Amazônia. É uma mera desculpa para tentar agradar os seus eleitores.

Com a Guerra Rússia x Ucrânia, a situação mudou completamente. A Europa perdeu dois grandes fornecedores de produtos agrícolas. O Brasil passa a ser decisivo para a segurança alimentar da Europa. A Europa sabe que a guerra vai ser longa e que a recuperação da produção agrícola na Ucrânia e na Rússia vai demorar um bom tempo.

Uma relação privilegiada com o Brasil e a Argentina é uma forma de conseguir uma maior segurança alimentar. Logo o Tratado de Integração entre o Mercosul e a União Europeia entrará em funcionamento.

Com a redução das importações de gás e petróleo da Rússia, a Europa vai ter que reduzir a produção nas suas fábricas. Os processos mais consumidores de energia serão reduzidos. O que vai implicar numa maior importação de alguns itens industriais. O Brasil não tem mais restrição de produção de energia elétrica. Com a crise do ano passado, foram adotas várias medidas para aumentar a produção de energia elétrica. O que pode favorecer a produção de itens intensivos de energia nas fábricas brasileiras. Se essas exportações ocorrerem para Europa, o Brasil pode acelerar a produção de energia elétrica, principalmente de fontes limpas.

Enquanto, na Europa e nos Estados Unidos, a recessão se instala, no Brasil, a economia entra numa fase de crescimento sustentável. A base desse crescimento são as exportações. Só que agora não somente de commodities, mas também de produtos industriais consumidores intensivos de energia.

O Brasil vai crescer à sombra da Guerra Rússia x Ucrânia. A indústria brasileira está com uma grande capacidade ociosa. As represas das hidroelétricas estão recuperando o armazenamento de água, após anos de chuva abaixo da média. Os últimos meses de chuva foram muito bons. Os novos projetos de produção eólica e solar estão em pleno desenvolvimento. Se a demanda de energia elétrica voltar a subir com firmeza, novos projetos de produção de energia elétrica poderão ser deslanchados. O tempo de implementação de novos projetos eólicos e solares de energia são bastante curtos. Sol e vento, o Brasil tem bastante.

Os próximos meses serão decisivos para o crescimento a longo prazo da economia brasileira. O aumento das exportações dos produtos agrícolas vai aumentar mais ainda o superávit da balança comercial e as reservas do Banco Central do Brasil.

Estratégia é equilibrar os projetos que melhorem o superávit da balança comercial, com os que melhorem a qualidade de vida da população brasileira. A qualidade dos empregos para a maioria das pessoas é muito ruim. A tecnologia ainda não chegou à grande massa dos empregos. Outro ponto é a baixa qualificação dos brasileiros. O sistema de ensino público ainda é muito falho. Com uma economia equilibrada, com inflação baixa e em crescimento, o Brasil entra numa fase crescimento contínuo de longo prazo.

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