O tamanho da próxima safra

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Fotos: Jaelson Lucas / AEN

Por Cesar Graça

A taxa de crescimento da economia brasileira está hoje atrelada ao aumento da safra de grãos, principalmente soja e milho. Os preços internacionais das commodities agrícolas aumentaram bastante nos últimos meses. Só está faltando saber agora o tamanho da safra 2020-2021, para se ter uma ideia do crescimento da economia brasileira em 2021.

Os preços das commodities agrícolas tem um ciclo de sete anos. No início, os preços sobem muito rapidamente. Como está acontecendo agora. O aumento da produção é lento. Leva de três a quatro anos para um aumento significativo da produção. Depois se inicia um longo ciclo de queda, que também dura de três a quatro anos. Os preços ficam abaixo do custo de produção e muitos agricultores quebram. Foi o que aconteceu com os agricultores norte-americanos nos últimos dois anos.

Com a Guerra do Trump com os chineses, os preços caíram na Bolsa de Chicago. O Brasil teve uma grande oportunidade de crescimento, por causa da desvalorização do real. Mesmo com os preços internacionais baixos a produção agrícola de exportação foi rentável. O que provocou um grande crescimento na produção de soja e de milho no Brasil. Os agricultores norte-americanos só sobreviveram por causa do subsídio dado pelo governo, que, em média, chegou a um terço das receitas deles nos últimos dois anos.

Agora com o aumento dos preços internacionais a lucratividade das exportações de grãos aumentou mais ainda para os brasileiros. Existe uma ótima oportunidade do Brasil ampliar a produção de grãos nos próximos dois anos aproveitando essa maré de preços altos. O resultado vai ser uma ampliação da participação percentual dos brasileiros no mercado mundial de soja

O início da safra 2020-2021 não foi bom. As chuvas atrasaram. O plantio também. Algumas áreas precisaram ser replantadas por falta de chuva. Parece que as chuvas estão retornando, mesmo no Rio Grande do Sul. Área mais atingida pela seca. O ciclo da soja é bastante curto. Varia de 100 a 120 dias. Daqui a três meses já teremos uma boa ideia do tamanho da safra de soja. As estimativas preliminares variam entre 130 a 135 milhões de toneladas.

As condições de plantio da safra 2020-2021 foram conturbadas. Com fatores positivos e negativos. Entre os fatores positivos o que mais interfere é a subida dos preços internacionais. A soja saiu de um patamar de 8 dólares por bushel (unidade norte-americana) e foi para 12. Um crescimento de 50% em dólares. Em reais a subida foi um pouco menor, na ordem de 40%, pois o real se valorizou com relação ao dólar nos últimos meses. Como os preços estavam atrativos, mais de 50% da safra 2020-2021 já foi vendida. Em valores menores que o pico atual. Existe uma expectativa que os preços internacionais continuem subindo. Alguns especialistas chegam a falar em 15 dólares para o bushel da soja.

Com os preços atuais existe uma expectativa de aumento da área plantada. A média dos últimos anos é um crescimento de 3% ao ano. Um crescimento de 10% não seria improvável. Também é razoável esperar um crescimento na produtividade. A média nos últimos anos é de um ganho de 2% ao ano. Com os preços nas alturas é provável que os agricultores aumentem a tecnologia utilizada e consigam um aumento maior de produtividade. Talvez uns 5%. O que daria um crescimento de 15%.

O fator mais decisivo são as chuvas. Este ano elas atrasaram. O plantio atrasou. Parece que elas estão voltando a normalidade e as chances de aumentarem é bastante real. Existem locais que as perdas já são significativas. Mas imaginar uma redução da produção total por falta de chuvas ainda é prematuro.

Uma previsão da safra com uma faixa maior seria entre 125 a 140 milhões de toneladas. Parece ser mais realista. Mesmo assim é possível que o valor real saia dessa faixa. Com maior probabilidade de ocorrer na faixa acima. Isso já aconteceu. Uma vez o valor real foi 20% acima da previsão inicial.

O plantio da nova safra já mexeu com a economia brasileira. Ninguém estava prevendo um crescimento tão forte. Ao contrário, todos estavam imaginando uma forte contração. Estão faltando vários itens. As indústrias estão com dificuldades de atender os pedidos. Vai levar alguns meses para as coisas se normalizarem. Até lá é preciso improvisar. O resultado vai ser uma taxa de crescimento da economia brasileira em 2021 bem acima dos 3% que está sendo previsto. Os números em 2020 já serão bem melhores, mas ainda negativos.

O que vai ser muito contraditório. No início do ano, após os primeiros anúncios da pandemia, os economistas estavam prevendo uma grande queda na economia. Falavam de uma queda de quase 10%. Agora já se fala em algo em torno de uma queda de 5%. Acredito que a queda real deve ficar entre 2 e 3%. Surpreendendo a todos.

No entanto, o mais surpreendente será a safrinha de milho. Que é plantada após a colheita da soja de verão. Só um terço da área de soja é plantada com milho. Outras culturas disputam as áreas remanescentes. O que define o que vai ser plantado é a rentabilidade. Esse é o principal fator. Em alguns momentos a safra de milho chegou a não ser rentável. Mesmo assim é preciso plantar algo. A área a ser plantada não pode ficar descoberta. Essa é uma regra do plantio direto. É preciso que essa plantação gere muita palhada. A soja não gera muita palha, mas o milho sim. O equilíbrio entre esses dois plantios é muito importante. Este ano a rentabilidade do milho está muito atraente. É muito provável que a área de milho aumente e outros cultivos da segunda safra de verão diminuam. E os cuidados com o plantio do milho também aumentem. O que pode gerar uma safra de milho acima do previsto, que hoje está entre 105 e 110 milhões de toneladas para as duas safras – a safra de verão e a safrinha. É possível que a produção de milho ultrapasse os 110 milhões de toneladas.

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